Quero tudo. Não sei o que quero. Mas quero sempre mais. O meu coração bate de urgência por mais. Nunca é suficiente. Tenho todos os sonhos do mundo e nada no coração. De tão cheio ficou vazio. Transbordo intensidades por todos os poros, o amor escorre-me pelos olhos. E nunca te vou conseguir amar. Nunca vou saber gostar de ti quando te quero tanto tanto que torno meu. E sacrificaria a minha vida pela minha liberdade, pela minha vontade de fugir. Sacrificaria tudo por uma causa, mas na verdade vivo sem razão. Fico louca, tão louca e só quero o mundo nas minhas mãos. Tenho uma necessidade extrema de sair daqui, de todos os lugares, de mim. Não sei pertencer a nada, não posso ser de ninguém. Não me ames, por favor.
Não posso ser o teu lar, não posso habitar em ti. Não te sei dar mais do que a vida me pulsa nas veias. Não sei ser mais do que a eterna perdida que não quer ser encontrada. Não me procures. E chamar-te-ia de amor só para acalmar o teu coração, poderia chamar-te amor mas a minha na minha língua perderia o significado. Mas o teu corpo no meu poderia ser tudo. E eu quero tudo. Agora. Não te faço promessas, não tenho o futuro. Não tenho nada. Mas quero tudo. Quero-te tanto.
Não me ames. Não me ames. Eu não sei como te amar. Eu iria destruir-te e assombrar os todos os teus lugares favoritos e depois não iria voltar. E sem mim nem tu poderias voltar. Acordar-te-ia a meio da noite para ouvir o som da tua voz e depois não te diria nada antes de me ir embora. Quem sabe um dia, quem sabe de vez. E eu até podia velar o teu sono tranquilo, mas não te posso prometer não te acordar em sonhos com o pesadelo da minha ausência. E se eu soubesse ser de outra forma pediria que me perdoasses, prometia mudar. Mas sou essência em bruto e não conheço outra forma de existir - tudo e nada misturados num paradoxo esquizofrénico.
E eu acho que talvez até fosse capaz de amar. Amar-te-ia tanto que te roubaria o ar. Amar-te-ia tanto que o teu coração ficaria negro de tanto amor. Por isso não me ames. Não me ames porque eu quero tudo e acabo por ser um nada gigante. E não se pode amar o vazio. É destrutivo e solitário.
Não me ames, meu amor, não me ames.