Já nem sei quantas vezes bati com a porta de tua casa e disse que te fechava o meu coração. Não sei quantas vezes te disse que estava farta deste meio-termo, que preferia não te ter do que te ir tendo. Tudo para acabar nos teus braços, agradecida por teres arrombado as portas que teimo em fechar.
Mas estou mesmo cansada. Estou cansada que que me peças para ficar, sem nunca me deixares passar do hall de entrada. Cansada que me prendas a ti sem nunca me abraçares. Estou cansada de metades quando te quero por inteiro. Vivemos à base do quase: um quase amor, uma quase felicidade, quase para sempre. E não é justo. Não é justo não saberes ficar comigo, nem sem mim. Não é justo que me atires umas migalhas de amor quando me vês definhar, apenas para me voltares a deixar moribunda e ao frio na entrada do teu coração. Não é justo.
E depois de tudo não sei do que tens tanto medo. E lamento imenso que esse medo te paralise os sentidos, lamento que te impeça de ser feliz. Lamento acima de tudo que nos impeça de sermos felizes. Juntos e sem meios-termos. Mas preciso que percebas de uma vez por todas que não posso servir de espanta-espíritos. Não me podes deixar à tua porta para te proteger dos teus fantasmas.
Já não sei quantas vezes bati com a porta. Por isso não bato mais. Mas não estranhes se a deixar aberta para o teu coração vazio. Vou-me embora e não quero que me procures.