Escapaste-me pelos dedos finos e trémulos e eu não soube como te salvar. Morreste longe de mim e, apesar disso, ainda te sinto a andar pelo meu coração em correrias desenfreadas, como se não tivesses todo o tempo do mundo, como se a eternidade não te fosse suficiente. Tenho saudades tuas, sabias? Sinto falta de quando sorrias com o corpo todo ou simplesmente te transformavas naquilo que eu realmente precisava. Sinto falta de como me explicavas a mim mesma e dizias que funcionava ao contrário, num ritmo só meu, num tempo que mais ninguém tinha. Tenho saudades de como me abraçavas e o meu corpo se moldava ao teu, como se não fosse mais do que algo criado para ti. Oh como eu sinto a tua falta, meu querido. Mas tu estás morto e se a vida não volta atrás, a morte também não tem remédio. A morte é tão descabida e caprichosa, não é? Pior só esse teu deus - às vezes tenho vontade de lhe gritar, às vezes só tenho vontade de o insultar de todas as formas que sei, mas nenhuma das duas faria sentido, não quando já não acredito na sua existência. E, por isso, limito-me a rir quando dizem para rezar por ti, como se algo tão grandioso como a tua alma pudesse estar sobre a protecção de um qualquer deus inútil. E se ele de facto estiver contigo então que me perdoe porque eu não consigo perdoá-lo. Tenho tanto para te dizer, mas a tua morte ainda me é estranha. Tenho tanto para te dizer, mas sinto-me estúpida por não saber se me consegues ver. De qualquer das formas vou deixar crescer o cabelo, sempre gostaste dele comprido, não foi? Tenho saudades tuas, mas estou a tentar ser forte. Morro por não te ter comigo, mas quero que saibas que estou bem. Escapaste-me pelos dedos, mas não do coração. Amo-te, sempre.