Acendes um cigarro e sorris-me em jeito de provocação. Não resistes em voltar mais uma vez, mesmo sabendo que voltarás a partir; e eu não resisto a deixar que voltes, mesmo sabendo que é temporário, que te limitas a alugar o meu coração, qual casa de praia à beira-mar. Habitas em mim para fugir à hipotermia sentimental que te sufocou o coração. E eu vou deixando, vou-me deixando seduzir pela esperança vã de que o meu estoicismo emocional seja como um estalo que acorde a tua alma.
Mas tu apagas o cigarro e lembras-me de que não se pode acordar quem finge estar a dormir; relembras-me que não és vítima dos teus demónios, mas o teu próprio fantasma. E eu não te posso salvar, apenas te posso dar abrigo; não posso salvar quem não quer ser salvo. Apagas o cigarro e queimas-me as entranhas. Dou por mim perguntar-me se a tua partida irá doer tanto como a tua chegada -a tua proximidade magoa quase tanto como a tua ausência.
Podes ficar o tempo que quiseres. Apenas te peço que quando saíres deixes as janelas abertas - só para arejar os quartos do meu coração abandonado.