domingo, 16 de janeiro de 2011


Sei que dificilmente passaremos disto: sorrisos, olhares e arrepios na espinha. Dificilmente seremos mais do que esta vontade louca de ser. Ser e apenas ser. Ser desesperadamente algo que não somos. Sei que de nada adianta perder o meu tempo à espera de quem nunca virá, de quem nunca tomará uma decisão. Sei-o bem. Mas, ainda assim, alimento esperanças e crio ilusões. Imagino mil cenários e em todos eles apareces para me buscar, em todos eles os teus olhos castanhos mergulham nos meus. Em todos eles acabamos abraçados e sorridentes. Em todos esses irreais cenários a tua pele cheira ao oceano no inverno e eu mergulho nela. Até nos meus momentos mais sãos, tenho esta esperança louca de que um dia me vais querer fazer tua.

E eu tento, tento não me render, tento não vacilar. Mas sempre que me sorris dessa maneira tão enviesada, tão tua, eu cedo. Sempre que passas os dedos pelo meu cabelo num gesto de afeição eu rezo para que não pares. Rezo para que fiques mais um momento, apenas mais um momento, um a seguir ao outro e, quem sabe, fiques para sempre. E eu sei que não devia, sei que não deveria aceitar-te desta maneira quase incondicional, principalmente por nunca te teres esforçado para isso. Mas, ainda assim, não resisto a fazê-lo. Não te resisto e esse é o meu grande medo, o meu grande segredo. E se tu soubesses o esforço que faço para manter a minha postura, para não correr para os teus braços sempre que te vejo, para evitar sorrir sempre que tenho um vislumbre teu, ou o esforço que faço para sentir o teu cheiro em mim, mesmo quando já não estás lá, irias gostar um bocadinho mais de mim. Se tu soubesses tudo o que eu te oculto, toda a imensidão de coisas que eu nunca te disse de mim, todas as realidades que nunca descobriste, gostarias mais um bocadinho de mim.
 
No entanto, mantenho a minha postura e disfarço o turbilhão de sentimentos contraditórios que me consome. Mantenho-a porque apesar de todos os gestos de carinho, toda a cumplicidade que fomos construindo e a da vontade imensa que tenho de estar contigo, tu estás com ela e não comigo. Controlo todos os meus sentimentos, porque a minha cabeça sabe que nunca aceitaria ser a parte obscura de um qualquer triângulo amoroso. Mas se tu soubesses o quanto me custa, tu não me olharias desse jeito, se tu soubesses que sempre que me sorris e dizes que sou especial alimentas uma esperança que conduz irremediavelmente à desilusão, se tu soubesses que de cada vez que me tocas eu quase morro na tentativa de não me derreter, tu não o farias. Ainda bem que não o sabes. Ainda bem que não sabes e me matas de todas as vezes que me tens sem me ter, que me olhas sem me tocar. Porque ao menos esta morte lenta, quase doentia, sempre me permite uns vestígios de prazer, uma miragem de felicidade. A tua ausência ou o teu distanciamento apenas conduziriam a uma morte rápida e dolorosa. Seria triste em vez de belo, e a tristeza nunca combinou com a cor da minha alma.

Por isso, alimento esta esperança que me consome aos poucos, alimento esta ilusão que vai abrindo fendas no meu coração e corroendo a minha alma. Faço-o porque de cada vez que me sorris com aquele sorriso que guardas só para mim, ou fazes aquele olhar que só me fazes a mim, tudo vale a pena. Mas, meu querido, vê se não demoras muito. O tempo corre e qualquer dia já não há coração para te amar.