Passo os dedos pelo papel já gasto e sinto cada palavra do que escreveste. Fecho os olhos e consigo ouvir a tua voz, consigo ouvi-la a proferir cada frase que escreveste. Cada frase que sentiste e depois largaste ao vento.
Sabes, tenho saudades. Tenho saudades dos tempos onde todos os dias eram tardes de Verão. Todos os dias cheiravam a amoras silvestres e tu lias para mim horas infinitas. Tenho saudades de quando os meus cabelos dançavam entre os teus dedos e as nossas gargalhadas uniam-se numa só. Ficávamos horas a ouvir o rio e a aproveitar a companhia um do outro, lembraste? Eu lembro-me que quando dizias que eu era bonita como a Primavera, e eu corava tanto tanto que ficava da cor do meu vestido, aquele que era o teu preferido.
Mas depois o Outono chegou e cada um seguiu com a sua vida. Prometeste escrever todos os dias até ao próximo Verão, mas o Inverno antecipou a nossa despedida.
Passo os dedos pelo papel de carta e recordo-me da doçura desses tempos, da alegria de cada momento. Foste o meu primeiro amor, um amor de Verão. E sabes, ainda hoje, sempre que os dias cheiram a amoras silvestres, eu lembro-me de ti. E isso, nem que seja por breves momentos, faz-me verdadeiramente feliz.