"- Gostava que ele estivesse aqui, não precisava de estar sempre, mas às vezes. Mal me lembro de ele estar comigo...Às vezes sinto tanto a falta dele que só tenho vontade de chorar. Mas não posso, não posso chorar nem falar disto porque não é justo para a minha mãe. Ela faz tudo o que pode e o que não pode por mim, e eu não quero que ela fique triste. Mas ao mesmo tempo gostava que ele tivesse vindo no meu dia de anos, ou que me tivesse ligado. Gostava que ele ajudasse a minha mãe. Mas mais do que tudo gostava que ele fosse um pai, porque no fundo é isso que ele é, mesmo que não pareça. E eu gosto dele como uma filha gosta de um pai. Sinto a falta dele."
Enquanto te tenho nos meu braços penso no quão frágil tu és. Penso na tua fragilidade, e depois lembro-me que talvez ainda sejas mais forte que eu. Sabes, odeio ver-te chorar, odeio mesmo. Mas nem tenho coragem de te dizer nada, sei que não choras à frente de mais ninguém. Pensas primeiro em todos e só depois em ti e, se eu te dissesse que não gosto de ver as lágrimas escorrerem pelo teu rosto, eras bem capaz de nunca mais chorar ao pé de mim.
Tu não devias sofrer desta maneira, os anjos não deviam chorar. Ninguém devia poder magoar-te, muito menos aquele que te devia proteger. Mas o pior é que nada do que eu te diga te vai fazer sentir melhor. Não existem palavras que apaziguem o teu sofrimento, e isso não é justo. Sabes, um dia ele vai perceber o que perdeu, vai perceber que não te viu crescer e que perdeu uma das pessoas mais fascinantes que conheço. Porque apesar de estares repleta de cicatrizes, o teu sorriso continua puro, e tu ainda brilhas mais que qualquer pessoa. Espero que nada te leve isso, pois é o que define.
Mas sabes o que me revolta mais? Tu não devias ter de crescer assim, ainda devias brincar com bonecas e escrever bilhetes ao colega do lado. É fácil esquecer-me disso quando falo contigo, mas tu tens apenas 9 anos. És um pequeno anjo, e dói-me não conseguir proteger-te do mundo.