domingo, 10 de maio de 2009

O que mudaria se eu dissesse que te amo?

Todos os dias quando te olho pergunto-me se mudaria alguma coisa se dissesse que te amo. As palavras ficam sempre mudas, não me atrevo a dar-lhes voz. Por vezes ao sentires o meu olhar fixo, baixas o teu como se soubesses que me perguntava o que mudaria se dissesse que te amava. Noutras vezes cumprimentas-me e arrancas-me um sorriso, tornando-se impossível não me questionar uma vez mais. As palavras continuam mudas. Falamos, mas as perguntas às quais não emprestei voz, ecoam-me na cabeça e o que dizes torna-se indecifrável, mas mesmo assim reconfortante. Sempre gostei da tua voz. Não sei se te respondo ou me limito a sorrir. Estou demasiado perdida para ter a certeza. Sei que se respondo, não são respostas longas, conheço-me demasiado bem, se começasse a falar as perguntas iam-me roubar a voz e deixariam de ser mudas. E eu gosto da tua voz, sempre gostei, é reconfortante. Por isso ouço-te mesmo sem saber se te respondo. Olho-te nos olhos e penso como são bonitos e verdadeiros, exactamente como eu imagino que é a tua alma. As perguntas desistem da tortura. Volto a conseguir decifrar as tuas palavras. Falas de amor, amor eterno, o meu favorito. E se eu dissesse que o amo, o que mudaria? Pergunto-me outra vez, voltando a ser incapaz de dar voz às palavras. Sempre te amei, mas nunca tinha tido a ousadia de te perguntar se isso mudava alguma coisa. Tentava ouvir-te, gostava da tua voz, agora ainda mais, sempre tinha gostado mas quando falavas de amor a tua voz ficava ainda mais bela. As perguntas gritavam dentro de mim, pedindo-me para as deixar sair, tentei responder-te mas como já tinha previsto uma pergunta mais ousada do que eu roubou-me a voz e perguntou-te o que eu gostava de ter perguntado mas que tinha calado, por ter sido mais fácil. Respondeste que mudava tudo, e eu quis saber de que forma é que mudava. Tinha calado as perguntas demasiado tempo, agora queriam todas sair. Coraste, e disseste que se eu dissesse que te amava tu tinhas de confessar que sempre me tinhas amado e que amor eterno só fazia sentido se fosse entre nós os dois. Fizemos juras de amor eterno, e vivemos sempre felizes e juntos. Era isto que estava a imaginar quando voltei a realidade e vi que não falavas de amor, muito menos do eterno, o meu favorito. Falavas de música. Fiquei desiludida, mas música também é amor, pelo menos para mim. Além disso continuava a gostar da tua voz, como sempre tinha gostado, era bom ouvir-te falar de qualquer assunto. Não te perguntei o que mudaria se dissesse que te amo, continuava sem ter a ousadia e as perguntas tinham desistido, por hoje.