Ainda estou magoada, o meu coração de papel foi amachucado e rasgado – não é fácil reciclá-lo, sabes? Mas, apesar de tudo, estou a tentar fazê-lo. Tu tens esse poder, tens o poder de me fazer esquecer que ainda estou ressentida e magoada contigo, que ainda tenho o orgulho em estilhaços e o coração esfarrapado. E, sinceramente, ainda não percebi se isso é bom ou não.
Eu sei que não fizeste de propósito, sei que nunca foi tua intenção magoar-me desta maneira, sei que nunca quiseste desiludir-me, mas fizeste-o. Também sei que a culpa não é inteiramente tua, sei que não tem sido fácil lidar comigo nestes últimos tempos, sei que a nossa amizade sofreu com as minhas mudanças, com a minha dor quase constante, mas eu esperava que soubesses que era por isso mesmo que precisava tanto de ti naquele momento. Eu sei que não tens culpa que me esteja a desfazer constantemente, sei que, provavelmente, nem consegues aliviar o pânico que me assalta a toda a hora, mas talvez, só talvez, tudo melhorasse com um abraço sincero, com a certeza de que estás presente. Mas não estiveste, nem sei se estás, contudo, o que me custa mais é não saber se queres estar sequer.
Eu compreendo que não estejamos em sintonia, que as nossas vidas estejam desfasadas e que, por isso, já não te identifiques tanto comigo. Compreendo que tenhas encontrado outra pessoa para preencher o vazio que eu te deixei, mas gostava que compreendesses que se existe alguém capaz de me fazer regressar, alguém que consegue melhorar temporariamente o meu estado, és tu. Sabes, consigo perceber completamente que te tenhas afastado um pouco de mim, consigo compreender que estejamos distantes, não aceito é que desistas de mim à primeira dificuldade, não percebo como consegues simplesmente virar as costas no momento em que mais preciso. Não compreendo como a minha dor te pode ser tão indiferente, não compreendo como não te custa minimamente ver-me assim a definhar por uma réstia de força, por um pouco de esperança, por um sinal que me faça acreditar que tudo isto vale a pena. Não percebo como te consegues distanciar de tudo isto, porque se fosse o contrário eu não conseguiria.
Sabes, no fundo é isso que me magoa. O que me magoa é a certeza de que se fosse o contrário eu não te iria deixar sozinho, independentemente do quanto mudasses, do quanto te desligasses, do quão triste ou apático estivesses. O que me magoa é saber que lutaria até ao final por ti e tu nem tentaste lutar por mim. É essa certeza que me custa. Custa-me saber que tentaste preencher o vazio de mim com outra pessoa, sem tentares primeiro recuperar-me. Custa-me ver que o meu sofrimento te passa ao lado e que consegues ser perfeitamente feliz sem mim, sem sequer sentires a minha ausência.
Não sinto raiva de ti, não estou chateada contigo, mas estou magoada. Posso ter-me tornado uma pessoa mais fria e independente e hoje ter a certeza que estou bem assim, que não preciso de ti para ser feliz, que não és de todo a minha vida, mas isso não significa que eu não te queira ter nela, não significa que não sou mais feliz quando estás comigo. E talvez seja por isso que ainda não desisti completamente de nós, apesar de já não estar a lutar. É que neste momento não tenho forças para isso, neste momento devias ser tu a lutar por mim, mas eu perdoo-te o imperdoável porque aprendi a ter fé. Se alguma coisa aprendi durante estes últimos tempos é que vale a pena ter fé nas pessoas, é que quase tudo vale a pena.
Quero que saibas que gosto muito de ti, que para mim és uma das melhores pessoas que já conheci, que apesar de já não termos o que tínhamos eu acredito que talvez o consigamos recuperar. Acredito que se quiseres, tudo é possível. Contudo, isso não significa que já não esteja magoada, que olhe para ti da mesma forma, porque isso não é verdade.