quinta-feira, 24 de março de 2011

Sabes, estou cansada que me digam como agir, que sejam senhores de verdades baseadas no ar, que tenham mil soluções hipotéticas, que se comportem como se eu não estivesse a lidar com o problema. Estou cansada.
É verdade que não sou perfeita, mas isto também não é algo simples, não é algo que se resolva do dia para a noite com meia dúzia de palavras. Tu não fazes ideia do pânico que é, do medo que sentes, não fazes ideia dos milhões de coisas que te assaltam o pensamento: tudo o que não disseste, tudo que não fizeste, todas as experiências que ainda não viveste, tudo elevado ao expoente máximo da dúvida. E ,de repente ,sentes um medo gigante de não ter tempo para nada do que querias fazer, sentes um vazio ainda maior porque quando não vês um futuro, quando não tens nada onde te agarrar e o amanhã cai no meio do vão, é complicado permaneceres seguro de ti e continuares a viver como se nada fosse. Adorava ser o tipo de pessoa que vive o momento, que viveu tudo no presente e não deixou nada para depois, mas não sou - sempre pensei nas consequências e sempre acreditei que existe um tempo e um momento certo para tudo, agora sinto-me traída porque não sei se algum dia vou ter esse tempo. É complicado lidar com o lado efémero da vida, dói tomar consciência dele, porque começas a questionar tudo à tua volta e as coisas começam a perder um bocado o valor, começam a perder o sentido. Ficas com medo de não deixares nada quando partires, afinal viveste tão pouco, medo de seres esquecida, medo de que ninguém sinta realmente a tua falta - e sim esta é uma perspectiva egoísta, mas é a verdade. 
Tu não sabes o que isto é. Não sabes o que é andar afogada em comprimidos que tanto te dão para saltares de felicidade como para chorar como se não houvesse amanhã - é uma montanha russa emocional da qual não consegues sair, e só queres um bocadinho de paz, cinco minutos de calma para conseguires pensar. De repente, já nem consegues estar sozinha contigo mesma, porque parece que te afogas em ti, às vezes e como se deixasses de existir por instantes, e às vezes isso até sabe bem, mas depois o medo volta, e perguntas-te: e se um dia não houver nada que me traga de volta? se um dia já nada me fizer voltar a existir? Então, ligas-te a mil coisas, mil pessoas, mas a nenhuma. Só queres o conforto dos teus verdadeiros amigos, o abraço no fim de um dia complicado (ou no principio, ou a meio), só queres que alguém diga que gosta de ti e que não quer que tenhas medo.É só isso. Ocupas-te com mil coisas, porque sempre que páras, morres um bocadinho mais, sempre que páras tudo te consome, o medo apodera-se de ti e tu perdes-te na tua própria imensidão. É horrível. Não me quero fazer de vitima, mas e verdadeiramente horrível. 
Não te consegues concentrar, perdes um bocadinho da força de vontade, já poucas coisas te parecem valer a pena, começas-te a desligar do mundo e isso é triste. Às vezes só queres sentir alguma coisa, por pior que seja, alguma coisa que te liberte da apatia que tu mesma te impuseste. Mas, ao mesmo tempo, não queres chorar, não queres chorar porque sabes que assim que começares não acabas, porque vais chorar por todas as coisas que não deviam ter acontecido, porque não e justo ter-te acontecido logo a ti que sempre quiseste tanto viver e ser feliz, porque não e justo que ninguém pareça ouvir os teus gritos, e porque até Deus deixou de ser real para ti, e tu precisavas tanto Dele agora. 
Estou perdida. Há dias que me doiem verdadeiramente, que sinto que perco um bocadinho de mim, mas há outros que são mais fáceis, dias que me fazem feliz por um bocadinho. E não estou a dizer que seja infeliz, tenho vários momentos em que me sinto relativamente bem, só tenho pena de serem só momentos, de por trás dessa felicidade momentânea e quase superficial me estar a desfazer. E, sim sinto-me desamparada, sinto mesmo. Afastei-me de algumas pessoas que, como já te disse, eram importantes para mim, sinto-me desamparada porque toda a gente tem as suas vidas e não tem nada que se preocupar com os meus problemas, é absolutamente normal. 
Mas eu aguento-me, aguento-me como me tenho aguentado e vou aguentar. Contudo, por mais que eu goste de ti, ou por mais que gostes de mim, tu não fazes a mínima ideia daquilo que eu estou a passar, não sabes o que é viver assim, e a perspectiva de que tudo pode piorar assusta-me, assusta-me porque sinto que não tenho ninguém para me segurar se eu cair (até as melhores pessoas estão a desistir de mim e eu não posso julgá-los por isso, não depois de ter tido vontade de desistir de mim mesma). Portanto, apesar da nossa amizade ou de me conheceres, tu não tens o direito de me criticar ou julgar, não neste assunto, pelo menos.