domingo, 25 de abril de 2010

Demasia

Adiámos a despedida por ser mais fácil na altura. Negámos o nosso fim, porque aprendemos a reconhecer-nos nos gestos do outro. Adoptei demasiado de ti, e tu adaptaste-te demasiado a mim. O nosso problema é a demasia. Tudo o que somos e fazemos tem uma nuance exagerada. O que sentimos tem o trago amargo de uma hipérbole já desvendada. Provavelmente pensamos ser mais do que realmente somos. Iludimo-nos, afinal uma mentira doce era muito mais fácil de aceitar do que um fim definitivo e doloroso.

Mentimos durante mais uns meses, negámos as saudades que nos consumiam, negámos a falta que sentíamos e até o vazio que nos preenchia. Somos demasiado orgulhosos para aceitar uma felicidade dependente, mas ao mesmo tempo fomos demasiado fracos para lutar pela independência. Escolhemos a área cinzenta, o local que sempre dissemos odiar, e fomos um meio-termo. Algo que não estava presente, mas que não se podia dizer ausente, acabado. Mas a demasia que nos define não estava satisfeita, provavelmente nunca esteve, talvez nem nos tempos áureos.
Voltaste e não precisaste de esperar que eu te abrisse a porta, a verdade é que tinha ficado encostada para um eventual regresso. Estava demasiada ligada a ti, e não consigo confirmar que já não esteja. A tua inconstância e imprevisibilidade tiraram-me todas as certezas que eu achei possuir.
Voltámos demasiado rápido, tão rápido que não tivemos tempo para pensar, tempo para questionar. Um dia éramos como um vulcão adormecido, estávamos lá mas a verdade é que não estávamos activos, não estávamos vivos. No outro provocámos a maior erupção já vista. E agora que penso nisso, não sei onde fomos buscar tanta vitalidade, tanta força. Mas nenhuma erupção dura para sempre, é demasiado rápida, intensa e, de certo modo, demasiado bela. Contudo é efémera e no fim restam apenas os estragos provocados, resta apenas a melancolia por tudo o que se perdeu.
Talvez estivesse errada quando achei que éramos como uma fénix, ou até mesmo como estrelas cadentes. Talvez sejamos como um vulcão, somos demasiado intensos para estarmos permanentemente activos e, por isso, passamos a maior parte do tempo adormecidos. Contudo, duvido que alguma vez sejamos extintos. Porque eu até posso fechar a porta, mas tenho a certeza que não consigo trancá-la.
O nosso problema é a demasia, somos demasiado para algo definitivo, por isso ficamos num meio-termo doentio que ambos dizemos odiar.