Percorro ruas e ruelas, que outrora foram nossas. Restos do que fomos estão por todo o lado. Sorrisos e abraços, estão agora espalhados e perdidos pelo chão. Não consigo evitar, e recolho-os delicadamente. Memórias tuas. Minhas. Nossas. Estão cravadas nas paredes. As paredes, meu amor, essas que albergam tudo o que fomos, tudo o que tivemos, desgastam-se a cada dia que passa. Ruas e ruelas que foram nossas, noutros tempos, encontram-se agora desertas e sem vida. Apenas memórias, pequenos restos do (nosso) passado, do nosso amor, permanecem. Já que nós não permanecemos, nem nas (nossas) ruas e ruelas, nem juntos. Vou recolhendo todas as memórias que as paredes não conseguiram segurar, e que por isso se encontram no chão. Guardo-as a todas. Pequenos fragmentos daquilo que um dia foi o nosso Império. Império que não se construiu num dia, mas que caiu em segundos. Olho para uma parede, e vislumbro uma memória minha, aquela que mostra a primeira vez que te vi. Memória essa que eu já há muito tinha esquecido. Passavas naquelas ruas, foi lá que eu te encontrei. Na ruas que nesse tempo ainda não tinham sido nossas. Sorri. Estava a percorrer aquelas ruelas, becos sem saída, ruas esquecidas, à procura de algo que nem eu sabia o quê, algo desconhecido que me levava lá, na esperança de encontrar alguma coisa. Não te enganes meu amor, que não procurava por ti. Procurava por nós, por aquilo que foste, por aquilo que me fazias ser e sentir. Agora já podia ir embora. Já sabia como é que me queria recordar de ti, queria recordar-te como aquele rapaz que encontrei num fim de tarde, numas ruas, que naquele tempo me eram desconhecidas, ruas que agora me eram tão familiares. Então parti, parti com as memórias que estavam caídas, agora guardadas na minha mala. Não me procures mais, agora és uma lembrança que eu deixei nas ruas de outros tempos, de outras (an)danças. Brevemente ruas que foram nossas serão de outros amantes, talvez com um final mais feliz. E tu bem sabes como eu gosto de finais felizes. Adeus meu amor, agora que já sei como me quero lembrar de ti, vou à procura do meu final feliz.
E assim naquele fim de tarde, uma rapariga mais leve e feliz, saía de ruas vazias e de paredes desgastadas com uma mala cheia, carregada de memórias. A mala ia cheia, mas leve. Leve e doce, tal como tinham sido os momentos passados naquelas ruas, agora abandonadas.