sábado, 23 de maio de 2009

Teatro/ Finge

Não me lembro de te ter pedido alguma coisa. Se pedi então ignora. Esquece, finge que não ouviste. Finge, sempre fingiste. Brincavas comigo ao faz de conta, e eu aceitava como se de uma criança me tratasse. Oferecias-me umas horas de teatro e eu dava-te todo o meu tempo. Eras um bom actor, sempre foste. Não me faças promessas. Esquece os meus pedidos, se é que alguma vez te fiz algum. Finge que não ouviste as minhas juras de amor. Finge que nunca te dei a mão. Até podes fingir que não me conheces. Não me importo. Talvez até seja melhor. Finge que eu nunca te amei, finge que nunca disseste que me amavas. Esquece. Ignora. É melhor assim. Não me procures mais. Não voltes a sussurrar o meu nome. Não me agarres mais no braço. Não me puxes para ti. Não me toques. Nunca mais me voltes a dizer que me amas, eu não vou acreditar. Não me faças mais promessas. Já chega. Acabou o teatro, a plateia cansou-se do espectáculo, eu não quero participar mais nessa tua peça, nessa tua dança que me prende e fascina. Finge sozinho. Finge por ti e por mim. É melhor assim. Melhor para ti e melhor para mim.

As personagens secundárias saem e o actor principal permanece, sozinho, no palco.

FIM