A cidade tinha o seu próprio movimento e eu movia-me com ela, sem tentar abrandar e parar para observar as centenas de pessoas que por mim passavam. Estava com pressa, estava quase sempre com pressa. Ia andando, passava por pessoas e pessoas passavam por mim, o meu interesse não era muito e o delas também não, provavelmente também iam com pressa, por algum motivo toda a gente tem pressa. Continuava avançar perdida nos meus pensamentos, sabia que o tempo não era muito e por isso comecei a caminhar mais rapidamente, mas o tempo também parecia correr. Estava nesta luta com o tempo quando os meus olhos subitamente pousaram em ti, não percebi de imediato porquê, virei a cara e continuei a andar, eras só mais uma pessoa a passar. Mas o teu rosto estava na minha cabeça, havia algo familiar em ti, algo que não conseguia reconhecer mas sabia que havia qualquer coisa fora do normal, parei. Pessoas continuavam a passar indiferentes à minha paragem, muitas delas empurrando-me para continuarem a andar no seu passo apressado. Revi novamente a tua imagem e cheguei à conclusão que provavelmente eras a única pessoa que não estavas com pressa, caminhavas lentamente, com sofrimento nos olhos, olhavas para o chão e por momentos pareceu-me ver uma lágrima, sem dúvida que eras um rapaz bastante bonito, contudo parecias perdido. Lembrei-me do que me era familiar, há uns tempos também eu vagueava sozinha e perdida, com o mesmo olhar de sofrimento, tentei voltar para trás para te encontrar mas já era demasiado tarde a cidade já te tinha levado para outro lugar, eu perdi a chance de te ajudar e tudo porque na altura não quis parar. Provavelmente nunca te voltarei a encontrar, mas a ainda hoje o teu rosto não consegui apagar.